quinta-feira, 28 de junho de 2007

9 - A Ideia de Deus e do Homem

A Fé cristã vista do ponto vista filosófico e racional

Introdução geral 

Abram nos Assuntos os 12 posts ligados com Este Tema sobre Religião e Filosofia, que especifico em baixo:

1. A Religião e a Filosofia

2 - A Religião

3 - O Conhecimento

4 - A ideia de Deus

5 - A ideia do Universo

6 - A ideia do Homem

7 - A ideia do Bem e do Mal

8 - A ideia de Deus e o Mundo

9 - A Ideia de Deus e do Homem

10/11 - Os Milagres e o Além

12 - Assuntos controversos

Eu fiz este trabalho a pensar em todos aqueles que se interessam pela filosofia, religião e as ciências em geral. 

O livro toca em muitas esferas da realidade e procura determinar aquilo que o cristianismo, a religião, a filosofia e a ciência dizem da realidade que podemos ver e da realidade que está para além dos nossos cinco sentidos.

Embora muitos estudiosos agarrem-se à ideia de que somos seres racionais, quando no entanto pensamos na pesquisa da realidade que está para além dos nossos cinco sentidos,  nós temos que incluir também o coração e não só a mente na busca dessa realidade sobrenatural.

Ninguém pode ter uma compreensão global da vida e do mundo só pelo uso do seu intelecto – ou razão. 

Afinal de contas a razão só nos permite conceber e compreender o mundo e a vida através da nossa própria perspectiva racional e cultural e de uma forma muito parcial.

É por essa razão que é errado dizer que nós somos unicamente seres racionais, pois além dos nossos pensamentos nós temos também sentimentos, emoções, impulsos e as crenças profundas que existem dentro da nossa alma.

Não se pode reduzir a nossa actividade cognitiva, assim como as nossas pesquisas filosóficas e religiosas unicamente à esfera do nosso raciocíno, ignorando o nosso lado sentimental e emocional e a faculdade que temos de crer num mundo sobrenatural que ultrapassa a esfera do racional e do natural.

Nós só podemos ter uma compreensão global da existência e dos relacionamentos humanos, se compreendermos que temos que envolver não somente o raciocínio, mas também o nosso coração nessa pesquisa/processo.

O raciocínio pode ser a sede dos nossos pensamentos, mas o coração é a sede dos nossos sentimentos, emoções, impulsos e crenças.

Por essa razão, neste trabalho, eu irei falar das três grandes actividades do ser humano na procura da compreensão global da existência, que são: o pensamento, o sentimento e a crença. Irei tentar mostrar que estas actividades não se contradizem, mas antes se completam. 

Claro que ao querer mostrar que o cristianismo é uma fé que “sente e crê”, irei salientar também que o cristianismo é uma fé  que “pensa”. É por isso que o título deste trabalho é A fé cristã vista do ponto vista filosófico e racional.

Neste livro eu procuro também dar uma explicação para questões misteriosas que estão ligadas com o nosso mundo natural, com a revelação bíblica e com o campo filosófico.

Vale a pena ler sobre a abordagem que faço acerca de alguns temas misteriosos relacionados com o universo, o homem e com Deus.
  
Capítulo 9 –A ideia de Deus e o homem 

I . A razão e a revelação
A. A razão e revelação
B. O significado da revelação
C. A função da razão

I I. A relação entre a razão e revelação
A. A concepção da teologia natural
B. A relação entre a razão e a revelação

I I I. Relação entre Deus e a humanidade
A. A relação entre corpo e alma
B. A soberania de Deus e a liberdade do homem
C. Deus o homem e a sociedade


I. A razão e a revelação

A. A razão e a revelação

A primeira grande questão filosófica muito debatida no relacionamento entre Deus e o homem, é se a fonte do conhecimento de Deus dá-se através da razão ou da revelação?

Tomás de Aquino fez uma grande distinção entre teologia natural e a teologia revelada. Ele não negou o lugar da razão na religião, mas considerou que a razão era insuficiente e não forçosamente enganadora.

"Só pela razão o homem não consegue ter um conhecimento total de Deus. A fé vem, não para destruir a razão, mas para suplementá-la na aquisição deste conhecimento".

A razão até pode compreender as mesmas verdades que a revelação, mas não consegue explicar cada artigo, com a mesma a profundidade e amplitude que a fé, mas simplesmente apresentar um breve resumo de cada artigo.

A razão até pode dar um pequeno prólogo do conteúdo religioso do teísmo ou do cristianismo. Por exemplo, a razão pode estar perfeitamente de acordo com a preposição: "o pecado existe". Mas nunca conseguirá ter uma noção profunda da natureza do pecado, e muito menos compreender as implicações do pecado em nossas próprias vidas.

A teologia natural nasceu da teoria de que o homem nasce por natureza com ideias de carácter religioso, e, por isso, pode compreender o campo religioso através da razão sem a ajuda da revelação.

Lord Herbert de Cherbury no seu Tractatus de Veritate, define a religião natural, utilizando cinco noções comuns:


1. Deus existe.

2. Deus deve ser adorado:

3. O culto a Deus deve ser praticado paralelamente, com uma vida de piedade e de virtude.

4. O arrependimento é necessário.

5. Existe uma vida no além, onde há recompensas e castigos.

Portanto, vemos que a razão pode crer nas mesmas coisas que a fé, na esfera religiosa.

No entanto, no passado, a teologia natural não era necessariamente oposta à ideia de revelação.

Defendia-se, nessa altura, a ideia que a revelação apareceu, através dos profetas, para apresentar um conhecimento específico sobre uma determinada matéria religiosa.

Mas as coisas mudaram e existe hoje uma nova concepção do papel e da função da razão na apreensão do conhecimento do divino.

"A grande controvérsia entre as escrituras e a razão continua". A vinda do naturalismo e das teorias de evolução parecia que iam dar o golpe final à revelação bíblica. Depois, veio o materialismo dialéctico, mais tarde as ciências biológicas e físicas, pretendendo fazer o mesmo.

Hoje, começam a surgir as ditas ciências para-psicológicas e antropomórficas que também pretendem negar ou ridicularizar a revelação bíblica.

Mas, a verdade, é que a palavra de Cristo não passa. "Os céus e a terra passarão, mas minha palavra não há-de passar" disse Cristo. Mateus 24:35

A revelação bíblica continua a ser espalhada por todo o mundo, apesar dos ferozes ataques vindos de todas as alas do conhecimento, cumprindo assim as profecias de Cristo:

"e este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim". Mateus 24:14.

B. O significado da revelação

A concepção de revelação divina é que embora a revelação envolva o processo psicológico do conhecimento, a revelação provém de Deus. Não é portanto uma busca somente de carácter cognitivo, em que a razão é o único utensílio na busca do conhecimento. É uma busca de algo que é revelado primeiramente por Deus, com a finalidade de criar um processo inter-comunicativo entre ELE e o homem:

"Deus transmite a revelação e o homem a procura e a recebe quando se torna receptivo à mesma".

Uma concepção mais alargada de revelação divina, entende que a revelação não vem exclusivamente do Livro – a Bíblia. "Pode vir de outras fontes, nomeadamente: a literatura, a natureza, as circunstâncias e directamente do Espírito de Deus".

No entanto, apesar disso, a Bíblia é a única revelação digna de confiança, pois é o cânon sagrado inspirado por Deus, sendo chamada por essa razão - a Palavra de Deus.

No sentido mais estrito da palavra a Bíblia é a única revelação absoluta de Deus e contém tudo aquilo que Deus quer que o homem saiba acerca Dele e do Seu plano redentor.

Deus pode revelar muitas coisas ao homem, através de muitas fontes, incluindo o Seu próprio Espírito, mas estas revelações são sempre relativas, pois, o homem pode dizer que recebeu uma revelação e esta não ter vindo de Deus.

Por essa razão quando o homem diz ter recebido uma revelação de uma outra fonte seja o Espírito de Deus, as circunstâncias, uma leitura, pregação, profecia etc tem que ter a certeza que essa revelação está de acordo com a Palavra de Deus.

Se não estiver de acordo com a Bíblia, a revelação não vem de Deus.

Podemos perguntar se as beatitudes são reveladas da mesma forma que a teoria da relatividade? É claro que não, pois uma é de natureza espiritual e a outra de natureza intelectual.

A primeira é revelada por Deus e só pode ser compreendida por uma pessoa que tenha uma mente espiritual e, a segunda, é uma matéria intelectual que pode ser compreendida por um estudioso nessa matéria.

Na busca do conhecimento meramente intelectual, a razão humana tem uma função importante, mas, na busca do conhecimento provindo da revelação bíblica, a fé é o motor de busca mais proeminente.

C. A função da razão

A razão pura é incapaz de atribuir a Deus atributos tais como liberdade e imortalidade, segundo o que foi dito por Kant. Para a razão pura, Deus não é mais do que uma projecção dos pensamentos do homem.

Mas, embora a ciência pretenda lidar com a realidade objectiva, o átomo é tanto um mistério como é Deus.

A razão não consegue entender a realidade mais profunda do átomo, pois ainda nem se sabe se já estão descobertos todos os seus componentes físicos. Isto para não falarmos da energia que está ligada à essência do átomo, que os físicos já não sabem se é energia física se é energia virtual, à luz das novas descobertas!!!

A nossa razão, embora jogue um papel fundamental na investigação científica, filosófica e religiosa, tem, contudo, as suas limitações. Por isso, a razão necessita de se associar com as outras capacidades humanas, se quiser fazer um julgamento mais correcto da realidade natural e sobrenatural que nos envolve.

"A psicologia moderna tem demonstrado que os outros factores psicológicos como os sentimentos, as emoções e a vontade que têm um carácter mais subjectivo, também têm um papel fundamental na investigação. Não é só a razão que investiga e elabora o processo científico e filosófico"

Felizmente, os cientistas estão cada vez mais convencidos que têm que aceitar também a abstracção como uma componente do método científico.

A razão quando está confrontada com a parte da realidade que é totalmente objectiva, poderá fazer julgamentos ignorando os sentimentos, a vontade, a consciência, o subconsciente, as motivações íntimas, os desejos, enfim a abstracção em geral, mas quando entra na investigação de campos mais complexos devido ao seu alto grau de subjectividade, então a razão não é mais do que uma parte do todo psicológico no processo da descrição fenomenal da realidade total.

Quando a razão, nessas circunstâncias subjectivas, quer tomar o lugar do todo psicológico, deixa de pensar e passa a racionalizar. Muitas vezes, os nossos campos de conhecimento estão dominados pela racionalização, em vez de um espírito aberto à investigação científica e filosófica.

Quando a razão pensa, e não racionaliza somente, é um sinal que o seu casamento com o sentimento está bom.

Quando a razão racionaliza somente, é um sinal que já se divorciou do sentimento.

"A Fé cristã, por sua vez, proporciona um casamento perfeito entre a razão e o sentimento".

O cientista não têm nenhuma prova para poder confiar totalmente na sua razão. Visto de um certo prisma, a razão ser também uma pura abstracção, como são os sentimentos.

A ciência e a razão tem que ter uma credibilidade cega nos aparelhos que utiliza para medir as experiências, pois é impossível terem 100% de certeza absoluta que esses aparelhos estão certos. Eles podem medir mal e dar resultados errados!

E quem pode provar que os aparelhos nunca falham!

Pelos resultados diriam. Sim, pelos resultados se o campo de estudo for objectivo, mas, e se for um campo mais subjectivo!?

Por isso, não existe razão pura desligada da pura abstracção.

A razão pura, trabalha em campos onde muitas vezes há pura abstracção.

No oceano das coisas sobrenaturais e divinas, enquanto a razão pura pode se afogar, a fé pode nadar.


I I. Relação entre razão e revelação

A. A razão e a revelação completam-se

Parece lógico que toda a revelação deve estar em proporção e em harmonia com a razão. Em última análise é a razão que confirma a autenticidade e credibilidade da revelação.

Se assim não fosse, qual seria o critério para se medir e criticar tudo o que aparece em nome de uma revelação?

"Se não houver um critério para avaliar e medir uma pretensa revelação, teremos que aceitar qualquer revelação que apareça em nome não sei de quem!"

A razão embora em parte seja uma abstracção igual ao sentimento, não deixa no entanto de estar mais relacionada com os factos. E sem dúvidas nenhumas que cabe à razão estabelecer uma correlação coerente com os valores sujeitos a uma avaliação mais científica.

A razão deve avaliar os factos que estão por detrás de uma revelação ou valor que está sendo sujeito a uma avaliação, questionando as seguintes áreas:

Quais as evidências históricas da revelação ou valor que está a ser avaliado?

Qual a coerência histórica da revelação ou valor que está a ser avaliado?

Como é que a revelação ou valor que está a ser avaliado valoriza o Bom?

Como é que a revelação ou valor que esta a ser avaliado valoriza o Mal?

Qual é o impacto social que a revelação ou valor que está a ser avaliado tem? Um impacto positivo ou negativo?

O cristianismo é uma religião que está enraizada em factos históricos e tem tido durante dois mil anos um impacto único e positivo no comportamento geral do ser humano. Além disso, o cristianismo defende tenazmente que a revelação, deve estar em harmonia com a razão humana. Portanto, a revelação cristã não ignora ou anula a razão humana, mas antes completa-a.

Com o progresso das ciências em geral, as teorias que defendiam que a razão era o único meio para compreender a realidade, vão-se tornando aos poucos num mito.

A revelação e a razão devem, portanto, viver em harmonia.

B. A razão tem dificuldade em lidar com os campos mais subjectivos

Reconhecemos que a razão humana tem dificuldades em compreender a revelação bíblica que tem um carácter mais teológico, como a criação do universo, os atributos de Deus, a salvação através da obra expiatória de Cristo e as profecias sobre os finais dos tempos.

Mas, embora a razão tenha dificuldade em lidar com campos mais subjectivos, está contudo muito ligada a toda a investigação metafísica, que geralmente, inclui: a ontologia (ciência do ser) e a epistemologia (ciência do saber). A axiologia (ciência do valor) e à análise de todas as ciências exactas e da vida.

A razão tanto se envolve na investigação da esfera intelectual, como na investigação dos valores morais.

O problema do seu relacionamento com a religião, é que o mundo sobrenatural e a compreensão de Deus, envolve o acto da “fé”, pois o mundo sobrenatural e Deus que podem ser equacionados de uma forma unicamente filosófica e cientifica.

Para terminar a nossa relação entre a razão e a revelação, teremos que dizer que a revelação bíblica, revela que o homem não poderá encontrar a drive (o caminho) para o céu através da razão humana.

C. A Revelação é que providencia o caminho para o homem chegar ao céu.

A Bíblia apresenta-se como sendo a única directory e Jesus Cristo como a única drive, para o homem encontrar Deus.

João 8:32 "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará, ou seja, conhecereis a verdadeira Directory – a Bíblia; e esta vos conduzirá à verdadeira drive - Jesus Cristo".

João 8:36 "Se pois o filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres".

João 14:6 "Jesus disse Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim".

João 18:36-38. "Ele disse-lhe todo aquele que é da verdade ouve a minha palavra... pois eu vim trazer a verdade ao mundo. Pilatos perguntou-lhe o que é a verdade".

Pode encontrar na Bíblia que Cristo se apresentou como sendo a verdade na sua conversa com Pilatos.

A razão humana não se submete à pressão espiritual imposta pela revelação, por causa da teimosia do homem. Não devemos esquecer que a revelação bíblica, sendo de inspiração divina, pressiona a mente e o coração humano!!!

E isto é solene, pois é no fundo o que fez Pilatos, rejeitou voluntariamente a verdade, e depois “lavou as mãos”. Mas isto não o iliba do crime que fez, ao rejeitar voluntariamente a Cristo (a verdade) e enviá-lo para a crucificação.


I I I. Relação entre Deus e a humanidade

A. A relação entre corpo e alma


1. Corpo e alma

A Igreja primitiva aceitou a noção hebraica da criação do corpo e da alma humana criada por Deus. A ideia de uma pré-existência espiritual defendida por Platão, não foi aceite como ortodoxa.

Se nós aceitássemos a ideia da criação como um processo contínuo, poderíamos aceitar a ideia da transmigração da alma, mas o cristianismo com a sua doutrina de uma criação por actos, defende a ideia de uma alma criada para cada corpo.

No entanto, a ideia de uma sociedade de espíritos, cuja a existência derivou de Deus, não vai contra a noção teísta. Muitos pluralistas ensinaram esta ideia em suas filosofias.

E alguns teólogos também.

Mas, apesar das muitas objecções que se levantam à ortodoxia que defende que Deus criou a alma separada do corpo é, contudo, a ortodoxia mais aceite nos meios cristãos.

Jerónimo, Anselmo, Aquinas defenderam o dogma ortodoxo do "criacionismo". Enquanto que Tertuliano defendeu o "traducionismo", a ortodoxia que ensinava que a alma era herdado dos pais tal e qual como o corpo também é herdado dos pais.

A filosofia, contudo, deixa este assunto em aberto, pois acha que há falta de conhecimento para apoiar uma opinião definitiva.

É verdade que muitos no Ocidente acham normal que uma alma nova nasça na altura em que nasce um corpo novo. Mas no mundo oriental há muito tempo que defendem a noção de uma transmigração da alma.

É verdade que não se pode ignorar que se aceitarmos a noção da imortalidade da alma, esta noção pode tanto defender a ideia da vida depois da morte como da pré-existência da alma.

"As questões sobre a alma, só podem ser devidamente solucionadas quando analisamos a sua relação com a questão da salvação da alma".


2. A salvação da alma e corpo

Falemos então um pouco sobre a questão da salvação da alma:

Os seres humanos, desde os tempos mais primitivos, têm manifestado a necessidade de manterem diante de Deus (ou deuses) um culto ou ritual religioso, através do qual expiem as suas culpas e recebam perdão.

A necessidade da expiação dos pecados é mais antiga do que a própria história. Têm as suas raízes bem no início da pré-história.

Acontece que a teoria da pré-existência da alma ou da criação da alma, influenciará a ideia da salvação - expiação dos pecados.

Estas duas teorias sobre a alma - pré existência e a criação da alma, e os respectivos processos de salvação são totalmente diferentes.

Por exemplo, a ideia da pré-existência da alma põe totalmente em causa a morte redentora de Cristo para nos salvar.

A salvação segundo as teorias da pré-existência da alma, fala de um processo evolutivo em direcção à perfeição, ou um retrocesso em que a alma desce de escalão em vez de evoluir. Desta teoria nasceu a doutrina da reencarnação da alma.

A ortodoxia cristã, defende a criação de uma alma que nasce inserida no seu respectivo corpo, e que a salvação é única e exclusivamente através da fé no sacrifício Redentor de Cristo. A salvação não é portanto um processo em que a alma vai transmigrando de corpo para corpo durante diversas vidas ou existências.

Devemos salientar que segundo a Bíblia, não só a alma, mas o corpo também é imortal. Este próprio corpo, não outro, irá ressuscitar um dia, uns para a salvação eterna, outros para a perdição eterna. O corpo dos crentes, embora sendo o mesmo corpo, ressuscitará celestial e revestido de imortalidade.

"Vemos isto em I Coríntios 15. O corpo imortal dos que não receberam Cristo, poderão ser definidas numa só palavra perecerão".

João 3:16. O termo "perecer" no versículo, fala de perecimento e não de aniquilação total como defendem alguns cristãos. Perecimento fala um processo contínuo de corrupção e de baixeza. Quando a bíblia fala de vida eterna, fala de uma posição e de bens que os crentes alcançarão no céu. Quando fala de perdição eterna, fala de um processo contínuo e de eterno perecimento.


B. A soberania de Deus e a liberdade do homem

É uma das maiores dificuldades da filosofia e da Teologia, definir the room – o quarto - para o homem no Universo.

Se o homem é um substantivo no Universo e não um adjectivo, isto significa que o homem tem uma personalidade livre e própria. Neste caso, Deus está limitado não só pela Sua própria existência mas também pela a existência do homem que Ele próprio decidiu criar.

Muito dos problemas levantados por esta questão estão ligados com a concepção finita ou infinita de Deus.

Se Deus é finito, isto implica que a sua acção está restringida e aí seria mais fácil aceitarmos a liberdade do homem. Se Deus é infinito pode-se cair numa concepção ortodoxa em que reduziremos o homem numa mera sombra de Deus, sem qualquer liberdade e vida própria.

De toda a maneira, os termos finito e infinito têm um significado diferente quando se refere à divindade e aos humanas. Se falarmos de Deus como um ser finito, isto não quer dizer que teremos de vê-lo finito como vemos o homem.

Há duas razões para pensarmos assim:

Primeiramente, o homem é finito e nunca poderá ser independente de Deus. Mesmo o universo dos mónados autónomos de Leibniz, que são independentes uns dos outros, estão contudo dependentes do mónado supremo, segundo um plano pré estabelecido por Deus.

O homem é finito porque ele depende de Deus.

"Mas Deus não é finito neste sentido, pois Ele não depende do homem nem de ninguém. Deus só é finito por causa das próprias imposições e determinações que impõe a Si próprio".

Se Deus criou o homem dando-lhe um certo poder de self-determination – determinação própria, esta é uma self-imposed limitation – imposição de limitação de Deus sobre Ele próprio.

Deus criou seres humanos, iguais a Ele, embora finitos, que parecem possuir o poder para não viver de acordo com a vontade e planos de Deus. Por isso, num certo sentido, esta liberdade do homem limita o poder de intervenção de Deus.

O poder de livre arbítrio humano, que limita a intervenção divina, é um produto da própria escolha de Deus. É lógico que Deus é Todo-poderoso e, se ELE quiser, pode anular todas as limitações.

Mas, Deus, não contradizendo a sua própria criação, deixa a natureza seguir o curso e as leis que ele próprio estabeleceu. Só em casos extremos é que Deus pode transtornar as Suas leis e desígnios, se isto for da Sua vontade.

Estamos então a ver, que esta questão da limitação de Deus cria-nos um problema sério - uma dicotomia em nossa mente. É difícil ultrapassar a dicotomia, ou desconexão que existe em nossas mentes, ao tentamos conciliar a ideia de um Deus Soberano com a ideia de um homem criado com livre arbítrio.

O cristianismo procura ultrapassar esta dicotomia, conciliando a doutrina do livre arbítrio do homem, com a doutrina da Providência e da Soberania de Deus:

A doutrina da Soberania e da Providência divina ensina que o planeamento, desígnios e tempos da existência pertencem a Deus.

A doutrina do livre arbítrio – ou liberdade humana – ensina que os homens são os únicos responsáveis pelas suas acções e escolhas, no relacionamento que têm com os seus semelhantes e com Deus.

C. Deus o homem e a sociedade

1. A política não é maior do que o mundo, somente governa o mundo

O homem além de ser um animal filósofo e religioso por natureza é também um animal político. A grande diferença entre a sociologia e o cristianismo é que os políticos pensam que o homem é só um animal político, não reconhecendo as outras esferas, nomeadamente a esfera filosófica e religiosa do homem.

"É este o grande erro das ciências sociais, resumir os problemas todos do homem à sua natureza política".

Quando isto acontece, a política passa a dominar completamente todas as esferas da vida humana e, em vez, de exercer igualdade e equidade entre as pessoas, passa a olhar unicamente para os interesses pessoais de quem governa ou faz a política. Desta forma os que trabalham na esfera política vendem-se ou rendem-se àqueles que dominam a esfera económica e financeira.

A política tem que limitar-se à sua esfera de acção, que por muito importante que seja, representa uma pequena parcela da acção humana.

Quando os políticos pensam que a política é tão grande como o mundo, governam o mundo de uma forma injusta e dominadora. Mas se reconhecerem que o mundo é maior do que a política, governam o mundo com muito mais sabedoria e humildade.


2. A esfera de acção política na sociedade e no mundo

"Qual é então esfera de acção da política dentro de uma sociedade?"

Uma sociedade é constituída por diversas associações de pessoas, começando pela associação mais pequena que é a família, passando pelas associações maiores que reune um grupo de pessoas que se juntam para criar uma actividade ou um negócio em comum.

"Depois temos as grandes associações ou corporações, como são o caso das forças militares e policiais; grandes associações industriais e comerciais; repartições públicas, hospitais, escolas e bombeiros; igrejas, clubes desportivos, associações artísticas culturais, moradores etc"

Todas estas associações ou grupos de pessoas, não têm em si mesmo nada a haver com a actividade política. A sua actividade é militar, pública, comercial, industrial, desportiva, artística, religiosa, saúde ou outra qualquer.

Mas quem regulamenta e fiscaliza a actividade destes grupos e associações e o relacionamento entre elas?

Esta regulamentação e fiscalização está ligada à esfera política. É o Estado que tem esta função regulamentadora e fiscalizadora. Por essa razão podemos dizer que o Estado é uma grande associação de pessoas que governa a sociedade, ou seja que governa todas as outras associações.

No caso de Portugal, a presidência da República, a Assembleia Legislativa, o governo e os Tribunais são os órgãos, ou associações independentes entre si, mas ligadas por uma única Constituição que compõem o aparelho político central – ou Estado – que governa as outras associações

Localmente os países possuem, por sua vez, as câmaras municipais, que são um aparelho político local que ajuda o governo central a governar.

Desta forma, tocamos aqui num aspecto importante:

A associação de pessoas que governa as outras associações de pessoas dentro de uma sociedade, tem uma natureza essencialmente política.

A sua função é "regulamentar, fiscalizar e providenciar um mínimo de serviços públicos que por causa da sua natureza, não deviam ser privatizados", mas deixando as outras associações e indivíduos expandirem-se à vontade, desde que não ultrapassem os limites postos pelas leis do Estado.


3. O Estado deve obedecer aos padrões de igualdade, liberdade e equidade.

No entanto, o Estado deve ter uma filosofia de justiça que obedeça a padrões de igualdade, liberdade e equidade de forma a garantir que todos os cidadãos tenham os mesmos deveres e os mesmos direitos.

"Um Estado que permita que a liberdade de uns prejudique a liberdade de outros, não está a observar estes padrões de igualdade, liberdade e equidade".

Mas há que ter cuidado em definir bem o conceito de liberdade, especialmente em nossos dias neo-modernistas, em que a ideia que os indivíduos têm de liberdade é o poderem fazer tudo o que lhes apetece!

Antigamente o aparelho político revestia uma forma repressiva, e os Estados totalitários/ditatoriais impunham a justiça e a moralidade à força, e isto não estava certo.

Mas há que ter cuidado hoje, pois os Estados democráticos revestem uma forma permissiva, onde o conceito de justiça e moralidade adquiriu unicamente um valor utilitário e individual.

Um Estado político que não esteja baseado em conceitos correctos de justiça e moralidade, acabará por contribur para a degradação das associações e das sociedades que governa.

FIM

Capítulo 1 INTRODUÇÃO
A Definição de Filosofia
O Cristianismo e a Filosofia

Capítulo 2 CRISTIANISMO E RELIGIÃO
As origens da Religião
Definição de Religião
Religião a vida humana e seus interesses
Religião e Ciência
Religião e Filosofia
Religião e Cultura
Religião e Revelação
Religião e Moralidade

Capítulo 3 CRISTIANISMO E FILOSOFIA
O Campo da Filosofia
O Cristianismo e o conhecimento
A Natureza do conhecimento
O Conhecimento religioso

Capítulo 4 A IDEIA DE DEUS
Deus e a razão humana.
As primeiras perguntas.
Provas teístas
Os Diversos argumentos
Natureza e atributos de Deus
Conceito moderno quasi-teísmo
É Deus inefável?
A natureza da experiência

Capítulo 5 A IDEIA DO UNIVERSO
Dualismo.
Monismo.
Pluralismo
Materialismo
Novo conflito – idealismo e realismo

Capítulo 6 A IDEIA DO HOMEM
A questão do pecado original
Conversão do homem segundo o cristianismo
Relação do homem e a sociedade
A personalidade e o livre arbítrio


Capítulo 7 A IDEIA DO BOM
As teorias do bom

A IDEIA DO MAL
O mal o sofrimento e Deus
As preposições: o mal existe e Deus existe
Razões filosóficas válidas
Razões bíblicas válidas p/existência do mal

Capítulo 8 DEUS E O MUNDO
O panteísmo.
O deísmo
O monoteísmo

Capítulo 9 DEUS E O HOMEM
A concepção da teologia natural
A relação entre a razão e a revelação
Relação entre Deus e a humanidade
É Deus finito ou é infinito

Capítulo 10 OS MILAGRES E O ALÉM
Evidências para os milagres
A ressurreição de Cristo
O método do processo histórico
Provas históricas evidentes da ressurreição de Cristo.

Capítulo 11 A IDEIA DO ALÉM
As relações dos conhecimentos com a morte
O Cristianismo e a morte


Capítulo 12 ASSUNTOS CONTROVERSOS

A posição sobre diversos campos:Aborto, eutanásia, sodomia, divórcio, bebé proveta, manipulação genética, clonagem, guerra, paz, terrorismo, globalismo.

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