segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A História da Minha Vida - Viriato Latinhas

Eu não gosto de contar a história da minha vida a ninguém, penso que deve ser por causa das confusões pelas quais passei quando era jovem.

Mas Deus esteve sempre comigo!

Em baixo, vejam os 14 capítulos e se algum interessar dêm uma olhadela rápida.

O Capítulo 9 - O meu Encontro com Deus,  é muito interessante. 

1. A História até à Adolescência.

2. Crise da Adolescência.

3. História a partir dos 17 anos.

4. Comecei a fumar liamba.

5. Tomei LSD sem saber.

6. Golpe de Estado em 1974.

7. Fuga para a Àfrica do Sul.

8. A minha ida para Portugal.

9. O meu Encontro com Deus.

10. Comecei a Falar de Cristo.

11. Conheci a Acção Bíblica.

12. Encontro com a Janet.

13. O Casamento com a Janet.

14. Fotos da Minha família.

Vou começar então a contar a História da Minha Vida: 

1. A História até à Adolescência.

Eu nasci em Moçâmedes - Angola, hoje chamada Namibe. 

Os meus pais, o Roberto e a Angelina, juntaram-se em 1950 e desta união tiveram 3 filhos, o Angelino, o Viriato e o Armando.

Os meus pais eram anteriormente casados e do relacionamento anterior, a minha mãe teve o Rogério e a Luísa e o meu pai teve um filho, o Norberto.

Eu e os meus dois irmãos, o Angelino e o Armando, nos demos sempre muito bem com os nossos dois meios irmãos, o Rogério e o Norbeto e com a nossa meia irmã, a Luísa.

Como naquela altura o governo português não concedia legalmente o divórcio, os meus pais nunca puderam casar-se legalmente. Quando o meu pai faleceu há cerca de 20 anos atrás, a minha mãe nem direito teve de ficar com parte da sua pensão. Ela ainda está viva - em 2014.

Em todos os meus documentos de identidade, vinha escrito Viriato dos Santos Martins filho ilegítimo de Angelina Gonçalves e Roberto dos Santos Martins.

Porquê ilegítimo?

Porque, embora, eu tivesse ficado com o nome do meu pai, pois ele era reconhecidamente o meu pai, eu tinha nascido de uma união entre duas pessoas que não estavam legalmente casadas.

Claro que eu destestava ir a uma repartição ou secretaria para apresentar os meus documentos de identidade, pois tinha vergonha que os funcionários ao lerem os meus documentos ficassem a saber que estavam diante de um "filho ilegítimo"!

A minha mãe perdeu a sua mãe e 2 irmãs de uma forma trágica quando ela tinha cerca de 12 anos de idade e alguns anos depois perdeu o seu pai que morreu de tristeza pelo que aconteceu. A minha avó ainda muito nova e as 2 filhas morreram envenenadas por um produto que por engano foi vendido numa farmácia.

O sofrimento da minha mãe aumentou com o divórcio, pois ainda por cima ela perdeu o direito aos dois filhos, visto ter sido ela a abandonar a casa devido a maltratos físicos por parte do marido que era um homem alcoólico e violento. Desta forma, ela perdeu o direito aos filhos, o Rogério e a Luísa.

Mas, algo maravilhoso aconteceu no meio destes problemas. Os meus pais tinham o costume de passar em frente de uma Igreja Evangélica e gostavam muito de ouvir os hinos de fora. Intrigados, num certo domingo, eles decidiram entrar na Igreja para ouvir os hinos de mais perto.

Durante o culto, foi cantado o conhecido hino que diz:

"foi na cruz, foi na cruz que um dia eu vi, meus pecados castigados em Jesus, foi ali pela fé que os meus olhos abri, e agora me alegro em sua luz".

meus pais convidaram a Cristo...

No final daquele culto, os meus pais convidaram a Cristo para entrar em seus corações e tornar-se Salvador e Senhor das suas vidas e desde aquele dia em 1950, eles nunca mais deixaram de ir aos cultos.

Antes de deixarem Angola em 1975, quando fugiram para Portugal, eles eram praticamente os lideres responsáveis da Igreja onde se tinham convertido em 1950.

Na altura da sua conversão, eles já tinham o seu primeiro filho, o Angelino, e logo a seguir à conversão deles nasci eu e mais tarde nasceu o Armando mais conhecido por Mandoca.

Desta forma, eu frequentei a nossa Igreja Evangélica desde que nasci em 1951 até ir para a tropa em 1972.

Gostei sempre de ouvir a palavra de Deus e senti sempre que era um privilégio ter nascido numa família evangélica, pois via que os meus amigos não tinham os mesmos valores cristãos que eu e os meus irmãos tinhamos.

Ainda me lembro quando tinha 8 anos de idade e a minha mãe ter contado aquela história quando Jesus disse a Pedro:

Mateus 4:19 "Segue-me e eu farei de ti pescador de homens»

Nessa manhã eu entreguei a minha vida a Deus e lhe disse "Senhor eu quero seguir-te e ser um pescador de homens".

Desde aí, embora miúdo, comecei a ter interesse em falar de Deus aos outros e este interesse cresceu até 1972 quando fui para a tropa.

Orava todos os dias a Deus, lia a Bíblia e lia outros livros evangélicos. Naquela altura, os cultos nas Igrejas eram muito simples, cantávamos uns hinos, seguia-se a colecta e depois ouvíamos uma boa pregação da Palavra de Deus, que era o mais importante de tudo. 

A nossa fé nascia e crescia completamente dependente da pregação da Palavra de Deus e da leitura pessoal da Bíblia.

O meu pai utilizava muito a revista a Espada do Senhor para dar as suas pregações.

Um dos meus versículos preferidos da Bíblia também voltado para a missão de "pescar almas para Cristo" era:

Marcos 16:15 "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura".


Pregai o Evangelho a toda a criatura

Devido à importância que a Palavra de Deus tinha para nós, isto criava um grande desejo em anunciarmos o Evangelho aos outros.

2. Crise da Adolescência.

O meu pai e a minha mãe estavam completamente mergulhados nessa missão de anunciar Cristo às almas perdidas, fossem amigos, vizinhos e visitavam as prisões e os bairros pobres à volta da cidade.

Mas, com o aproximar da adolescência eu entrei na chamada crise da adolescência, que muito dificilmente consegui controlar.

O despertar da sexualidade e o interesse pelas coisas deste mundo começou aos poucos a controlar a minha vida e debaixo da influência dos amigos descrentes, eu comecei a frequentar certos lugares, a fumar e a fazer certas experiências, mesmo a nível sexual, que me desgostavam muito pois não estavam em linha com as minhas convições religiosas e com a chamada que eu tive logo aos 8 anos de idade quando eu disse a Deus:

"Senhor eu quero seguir-te e ser um pescador de homens".

Comecei também a ter pouco interesse na escola e o meu comportamento diante dos professores piorou.

Um certo dia, amarramos um monte de latas vazias ao carro de uma professor "velhota" e aquilo é que era rir às gargalhados quando ela arrancou o carro. O Director, o Sr. Balsa, achou que era demais e suspendeu 3 ou 4 alunos da Escola e, por isso, eu perdi aquele ano e tive que repeti-lo.

Provavelmente a chamada que eu tive de Deus, quando eu era ainda um miúdo, tem qualquer coisa a haver com o meu nascimento.

Quando eu tinha somente alguns meses de idade, eu contraí uma doença considerada fatal para as crianças naquela altura e os médicos disseram aos meus pais que "muito pouco poderiam fazer e que dentro de uns dias eu iria morrer". 

Naquela altura não havia os medicamentos de hoje e mesmo uma diarreia ou gripe podia ser a causa da morte de uma criança.

Eu estava mesmo mal, às portas da morte. A minha mãe fez uma oração e disse a Deus "Deus, se o meu filho escapar a esta doença e viver, eu o consagro para o teu serviço".

E escapei! Ainda hoje pergunto, será que foi pela minha  mãe ter consagrado a minha vida ao serviço de Deus se eu não morresse, que logo aos 8 anos de idade eu senti a chamada de Deus e lhe disse:

"Senhor eu quero seguir-te e ser um pescador de homens"?

Eu não sei, só posso ter as minhas convições, mas Deus sabe!

Mas, como dizia, a minha crise durante a adolescência afastou-me dos caminhos de Deus e comecei a fazer experiências amargas que me causaram muita tristeza, culpa e desespero.

Apesar disso, nunca perdi a minha fé e ia sempre aos cultos até ir para a tropa e continuava a ter sempre aquele desejo de falar de Cristo aos outros.

3. História a partir dos 17 anos.

Quando eu tinha 17 anos de idade, decidi colocar muitas coisas de parte e até deixei de ir ao cinema, cortei com certos lugares e deixei de fumar por um tempo. 

O meu irmão Angelino tinha ido a um retiro de jovens e veio de lá cheio de paixão por Deus e isto deve ter tido uma certa influência sobre mim.

Embora eu estivesse a passar por uma crise muito forte, decidi nessa altura abandonar a escola diurna, arranjei um trabalho e fui estudar à noite e melhorei muito tanto o meu comportamento diante dos professores como as minhas notas. 

Nessa altura dediquei-me muito ao trabalho e ao desporto.


Em cima: Freitas, Fernando, Correia, Monteiro, (?), 
Helder, Bitakaia e Sá.

Em baixo: Maia, Viriato com a bola, António Cruz, 
João Batista, Henrique e Mário Pereira. 

Era sempre dos melhores jogadores da minha equipe, pois treinava muito, nunca me sentei no banco dos suplentes e gostavam muito de mim no trabalho.

Eu trabalhava como dactilógrafo e no atendimento ao público no Notário da minha cidade.

Parecia que a minha vida estava a querer melhorar, mas chegou o tempo da tropa e lembro-me do dia em que apanhei o comboio para ir para Nova Lisboa a 600 kuilómetros de Moçâmedes, para iniciar a recruta militar.

A minha mãe não se esqueceu, é claro, de colocar uma Bíblia na minha mala, embora ela soubesse que eu não andava muito bem com Deus.

Eu li sempre a Bíblia durante os 3 anos de tropa, falei sempre de Deus aos outros, aquele desejo de servir a Deus continuava, mas, a tropa levou-me de novo a uma grande recaída.

Viriato de joelhos - é o 2 a partir da esquerda.

Eu fui sargento miliciano rodoviário, o chamado furriel rodoviário e deixei-me influenciar por alguns amigos furriéis, que me começaram a levar a lugares de drogas e àlcool. Por acaso, eu nunca me deixei seduzir pelo àlcool, pelo qual tinha uma aversão natural e social muito forte e ainda bem.

4. Comecei a fumar liamba.

Mas comecei a fumar socialmente "liamba" uma erva muito utilizada naquela altura.

Era social, só fumava esta droga quando saía com eles mas, aos poucos, o hábito começou a tomar conta de mim.

Por acaso os dois furriés que viviam comigo no mesmo apartamento, o Cardoso e o Carneiro, me avisaram muitas vezes para fugir da companhia dos furriés que estavam envolvidos nesta vida. Mas eu, teimoso, não os quis ouvir e dizia "não se preocupem, eu consigo controlar a situação".

Mas, afinal, a situação é que me foi controlando e um dia estes amigos pregaram-me uma partida.

Viriato na tropa a dar um salto mortal

Não se esqueçam que eu era o "menino" que lhes falava de Deus, tinha valores diferentes aos deles, não tinha paixão nenhuma pelo àlcool, fumava uns tempos e deixava uns tempos, não andava metido em todas festas, mas alinhava com eles em algumas coisas e eles queriam que eu alinhasse mais.

5. Tomei LSD sem saber.

Convidaram-me para uma festa em casa de um deles, havia para lá algumas raparigas, que nem tinham nada comigo, nem com os meus amigos. Enfim, nunca percebi bem o que havia entre eles e elas, um destes meus colegas até era casado e a mulher veio viver para perto dele.

Eles deram-me uma pastilha de LSD, gozaram comigo quando a pastilha estava a fazer efeito, rindo às grandes gargalhadas ao verem a cara patética que eu fazia, pois eu não sabia o que se estava a passar comigo e depois abandonarem-me à minha sorte.

Foi uma atitude irresponsável da parte deles e perigosa abandonarem alguém que pela primeira vez tomava LSD. Ingênuo, como eu era, sabia lá o que era aquilo, ou que dava uma "paranóia" tão forte, fazendo a pessoa ficar completamente fora de si.

E, assim aconteceu. Durante quase 6 horas andei completamente fora de mim, perdido numa viagem alucinogénica onde se perde a noção do tempo e se perde o controle da nossa vida consciente e racional e onde o irrealismo toma completamente conta de nós.

Viajei mentalmente e emocionalmente para o passado, não entendia o presente e o futuro se apresentava medonho à minha frente . Posso resumir tudo na palavra "paranóia". Apanhei uma "paranóia" durante 6 horas sem ter qualquer domínio sobre a minha pessoa. Se alguém me dissesse "vai e atira-te daquela ponte abaixo, se calhar eu teria feito".

Claro que uma "paranóia" destas deixa sequelas e a partir daí passei a viver em algumas áreas da vida entre a fronteira da realidade e da ilusão.

A minha personalidade perdeu um pouco a coesão mental e emocional e a minha memória ficou fragmentada e certos "flashes" que tive durante aquela viagem alucinogénica voltavam de vez em quando e tomavam conta do meu pensamento.

Claro que tudo isto teria sido minorado se eu tivesse recebido o apoio dos meus amigos, mas eles pregaram-me aquela partida pois não mediram o perigo que eu ia correr, ao terem-me abandonado.

Fiquei extremamente chateado com esses amigos e embora mantivesse a amizade com eles a nível do nosso trabalho militar, éramos instrutores rodoviários, deixei-os de acompanhar para essas festas, pois senti-me traído e perdi a confiança neles.

Como não me sentia bem, devido à falta de coesão que sentia a nível da minha personalidade e da fragmentação da minha memória que, por vezes, fazia-me pensar que eu estava de novo debaixo daquele efeito alucinogénico, eu decidi tomar mais uma pastilha sozinho na esperança de poder reencontrar-me.

Entretanto, eu nunca deixei de  ler a Bíblia mesmo quando estava debaixo do efeito da "liamba", chegava a casa lia a Bíblia e sentia que Deus falava comigo através da leitura da Bíblia e a vontade de me libertar daquilo tudo era cada vez maior.

Fui sozinho para um parque, tomei aquela pastilha e pedi ajuda a Deus, para reencontrar-me. E, assim foi.

Deus ajuda-me a reencontrar-me e a sair desta viagem!
Os efeitos alucinogénicos foram ainda piores do que da primeira vez e não consegui sair daquela paranóia, antes pelo contrário quando o efeito passou fiquei mais "paranóico".

Durante esta nova experiência com o LSD, os flashes eram tão fortes que eu via a minha pessoa fora de mim, gigante, a falar comigo e eu sem saber o que fazer diante destes e de outros efeitos que sentia.

Decidi então não tornar a fazer mais aquela experiência com o LSD e procurava libertar-me daquela "paranóia" de uma outra forma.

6. Golpe de Estado em 1974.

Entretanto, veio o golpe de Estado em Portugal no dia 25 de Abril de 1974 e Portugal entregou logo as províncias ultramarinas, incluindo Angola, aos partidos que lutavam pela independência das mesmas.

Logo que isto aconteceu, mandaram-nos embora da tropa e eu voltei para Moçâmedes onde arranjei logo um bom trabalho, mas continuei a fumar "liamba" às escondidas, de vez em quando. Ai de mim, se os meus pais e familiares ou os meus chefes de repartição soubessem!!!

Passados uns meses, farto de tudo, quando as pessoas estavam a fugir para Portugal, com medo de serem mortos pelas tropas do MPLA, FNLA ou da UNITA os partidos que tomaram conta de Angola, eu decidi fugir não para Portugal mas sim para a África do Sul.

7. Fuga para a Àfrica do Sul.

Apanhei uma boleia até à fronteira de Angola, onde fui literalmente deixado no meio do mato, ao frio e com o risco de ser atacado por animais noturnos. Vi o fumo de uma fogueira ao longe, aproximei-me e vi que era um grupo de cerca de 20 pessoas de raça negra que comiam e se aqueciam à volta da fogueira.

Eu disse para mim "podem ser terroristas" ou "bandidos", não se esqueçam que Angola estava em guerra e eu estava entre a fronteira de Angola e a Namibia.

Mas eu sabia que não tinha outra solução, tinha que arriscar e aproximei-me deles, eles só falavam inglês, mas eu falava um pouco de inglês e consegui falar com eles. Se era um anjo que estava comigo não sei! Mas eles deram-me comida, cama e no outro dia levaram-me à povoação mais perto para eu apanhar uma boleia para a África do Sul.

Um amigo meu da tropa parou!?

E assim foi, fiquei na estrada e passado um pouco um carro parou. Supreendido, vi que era um amigo que esteve na tropa comigo que conduzia e levava um outro amigo tropa com ele.

Acreditem se quiserem, mas eles deram-me uma boleia de 3000 kms até Joanesburgo. Fui para a casa dos tios do meu amigo e para minha surpresa notei logo que eles eram evangélicos e vendo que eu também era evangélico, eles aconselharam-me a voltar para Deus e oraram pedindo a minha libertação.

Como desde os 16 anos comecei a trabalhar e era muito responsável, arranjei logo um trabalho em Joanabesburgo, procurava não me envolver em festas, mas de vez em quando lá fumava "liamba" às escondidas com um amigo de confiança.

Entretanto, os meus pais e irmãos fugiram de Angola para Portugal, sem saberem do meu paradeiro, chegando a pensar que eu devia estar morto, pois eu não tinha a morada deles em Portugal para contactá-los.

8. A minha ida para Portugal.

Passado uns 8 meses em Joanesburgo fui ao consulado português e pedi para me enviarem para Portugal, o que foi feito e apanhei um avião para Portugal. Através dos serviços sociais acabei por encontrar o paradeiro da minha família.

Nessa altura, eu estava mesmo farto de tudo, mas mesmo assim ainda ia de vez em quando a certos lugares comprar "liamba", mas fumava sozinho. Ninguém sabia, nem amigos, nem os meus familiares.

Eu sentia sempre uma grande luta dentro de mim, parecia que estava sempre a ouvir de um lado a voz de Deus a chamar-me, mas de outro lado a voz de satanás a tentar-me. Ainda hoje pergunto-me a mim próprio se não fiquei perturbado por ter assistido a um exorcismo feito na minha Igreja.

A senhora endemoninhada que entrou pela primeira vez na nossa Igreja, teve um ataque mesmo dentro da Igreja.

As 60 pessoas que lá estavam fugiram espavoridas, incluindo o meu pai, pois os gritos e gargalhadas dela só podiam estar a vir do inferno e não consigo por palavras minhas retratar a expressão demoníaca no seu rosto.

A mulher do missionário, que era o Sr Lutes, também fugiu espavorida.

Libertou a Dona Florinda!
Só ficou no salão de cultos, o Sr Lutes, o Gabriel, a minha mãe e eu porque fiquei colado à cadeira sem conseguir fugir. Por isso assisti a tudo, e o diabo foi expulso naquela tarde do corpo daquela senhora.

E ainda hoje ela frequenta uma Igreja Evangélica no Algarve.

O seu marido, o senhor Germano, também se converteu e este casal eram os nossos vizinhos evangélicos em Armação de Pêra, no Algarve, de quem vou falar daqui a pouco.

Eu penso que satanás ao sair daquela senhora, ficou sempre a perturbar as quatro pessoas que de certo modo contribuiram para que aquele exorcismo tivesse sucesso. O Sr Lutes, o Gabriel, a minha mãe e eu.

Eu penso que aquilo que assisti na vida destas 4 pessoas ao longo das suas vidas, incluindo a minha vida, confirma as minhas suspeitas.

O Sr Lutes que era um servo santo de Deus tornou-se alcoólico nos últimos 10 anos da sua vida e morreu alcoolizado. O Gabriel caiu no adultério. A vida da minha mãe, que ainda hoje vive, tem sido muito difícil.

E eu estive sempre debaixo da tentação do diabo que me quis destruir para que nunca se cumprisse aquilo que eu disse a Deus, quando era ainda um miúdo de 8 anos "Senhor eu quero seguir-te e ser um pescador de homens".

Mas, como estava a dizer, de Joanesburgo fui para Lisboa onde encontrei os meus familiares e, mais tarde, os serviços sociais enviaram-nos de Lisboa para Armação de Pêra no Algarve.

Eu sentia-me mesmo mal. De um lado, sentia-me culpado por todos aqueles anos a viver longe de Deus e pelas más experiências que tinha feito. De outro lado, não conseguia libertar-me da paranóia do LSD e satanás não tirava as suas garras de cima de mim.

9. O meu Encontro com Deus.

Como sempre, de vez em quando arranjava um pouco de "liamba" e lá fumava sozinho e à noite gastava algum tempo a ler a Bíblia e a orar pedindo a Deus para me livrar de todo aquele sofrimento. 

O meu desejo de servir a Deus, levando o Evangelho aos outros e que nasceu dentro de mim quando ainda era um miúdo de 8 anos, continuava sempre bem presente dentro de mim.

Naquela noite, eu estava a ler a Bíblia e a orar e a pedir a intervenção de Deus, pedia-lhe que me perdoasse todos os meus pecados e me libertasse das garras de satanás e lhe confessava todo o desejo que tinha de o servir, quando de repente senti algo estranho dentro do quarto.

A minha luta naquela noite, faz lembrar a luta do Salmista:

Salmo 18:4-6

4 - Cordéis de morte me cercaram, e torrentes de impiedade me assombraram. 


5 - Cordas do inferno me cingiram, laços de morte me surpreenderam.


6 - Na angústia, invoquei ao SENHOR e clamei ao meu Deus; desde o seu templo ouviu a minha voz e aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face.


Eu não estava debaixo do efeito da "liamba" e levantei-me e fui ao espelho. 

Parecia mesmo que ao meu lado estava uma presença diabólica a oprimir-me e a querer fechar a minha boca e a impedir que eu continuasse a ler a Bíblia e a orar.


Voltei para a cama e o meu clamor aumentou. O pedido para Deus me perdoar e me libertar destes cordéis de morte e cordas do infernose tornava cada vez mais forte.

A Sua Presença encheu o quarto

E, de repente, tudo aconteceu. Alguém que não vi, nem ouvi, desceu ao quarto e a sua presença encheu completamente o quarto.

Diante daquela presença Infinitamente Grande e Santa, eu senti-me infinitamente pequeno e um grande miserável pecador.

Compreendi naquele instante o quanto Cristo sofreu no meu lugar por todos os meus pecados. E uma unção de conhecimento, libertação e cura caíu sobre mim e um desejo enorme de levar a mensagem aos perdidos se apoderou de mim.

Neste preciso momento, em que não vi nada, nem ouvi nada, só vi e ouvi com os olhos do meu coração, senti a presença maléfica a sair do quarto, posso dizer até hoje.

Levantei-me da cama, fui à casa de banho e deitei a porção de liamba que tinha comigo pelo o autoclismo abaixo, deitei os cigarros ao lixo e fui restaurado instantâneamente quase completamente da "paranóia" do LSD.

Eu sabia naquele momento que era uma nova pessoa "que as coisas velhas passaram e que tudo se tinha tornado novo" I Cor 5:17

Depois, voltei para a cama e adormeci. 

Quando acordei no outro dia, fui logo contar o que me aonteceu aos meus pais e aos meus vizinhos vindos de Moçâmedes e que eram evangélicos, o Senhor Germano e a Dona Florinda, a senhora que tinha sido liberta naquela reunião em Moçâmedes.

10. Comecei a falar de Cristo.

Comecei a falar de Cristo à minha volta, a toda gente, especialmente às pessoas vindos de Angola, que eram muitas centenas. Desafiei os meus pais e ao Senhor Germano e Dona Florinda a fazermos cultos, uma vez na minha casa, outra vez na casa deles.


Em Armação de Pêra
Eram cada vez mais pessoas a vir. Chegamos a alugar o cinema da cidade para uma reunião especial de Natal e estavam presentes cerca de 200 pessoas.

Entretanto uns missionários suiços que ouviram falar daquele trabalho vieram ter connosco e começaram a ajudar-nos.

Chegamos a alugar um autocarro para levar as pessoas de Armação de Pêra a Faro e a Olhão para uma reunião especial.

E levamos muitos jovens e crianças para os acampamentos da Acção Bíblica em Bias do Sul.

Aos 8 anos de idade eu disse a Deus "eu quero ser pescador de homens". Satanás tentou travar-me, mas aos 23 anos Deus interviu e libertou-me das suas garras.

Fui curado da minha paranóia e Deus ungi-me também com uma unção de poder para levar o Evangelho aos outros e este desejo tem permanecido até hoje.

Eu não sigo a doutrina da segunda benção, que ensina que primeiramente somos salvos por Cristo e depois a seguir somos batizados pelo Espírito Santo.

Pois, para mim, nós somos batizados pelo Espírito Santo assim que cremos em Cristo. Eu creio que aceitei Cristo e fui batizado pelo Espirito Santo logo desde criança, mas devido ao poder do pecado e ao poder de satanás sobre a minha vida, eu precisava de passar por aquela experiência poderosa de enchimento do Espirito Santo.

A experiência daquela noite
A experiência que eu tive naquela noite foi a de um enchimento do Espírito Santo que varia de pessoa para pessoa, pode ser menos ou mais intensa, dependendo muitas vezes das circunstâncias e dos problemas pessoais de cada um.

Todos os crentes que buscam a Deus conhecem com menos ou com mais intensidade experiências de enchimento do Espirito Santo em suas vidas.

Aliás, a Bíblia diz "Enchei-vos do Espirito Santo" Efésios 5:18-20.

Ser continuamente cheio do Espirito Santo é um imperativo da Palavra de Deus, que deseja que nós atingamos o máximo que pudermos da Sua Plenitude.

11. Conheci a Acção Bíblica.

A Acção Biblica convidou-me para ir a Suiça em 1976 onde durante 2 anos estudei na Escola Bíblica de Genebra, tendo voltado para o Algarve onde trabalhei 7 anos como pastor da Acção Bíblica.

Nessa altura já tendo 33 anos, eu era solteiro, mas estava tão ocupado com o trabalho de Deus que pouco tempo tinha para pensar em casar. 

No entanto, orava a Deus e dizia "se queres que eu fique solteiro, eu aceito, mas se queres que eu me case conduz-me à pessoa da tua escolha" e deixei este assunto nas mãos de Deus.

Em 1984, durante a uma reunião ao ar livre em Faro, um casal de ingleses parou para assistir à reunião. Um pouco depois fui ter com eles e perguntaram-me onde era a nossa Igreja, pois eles gostavam de ir ao culto.

Assim foi, combinamos o encontro, eles vieram ao culto. Ficamos amigos e eles convidaram para fazer-lhes uma visita à Inglaterra.

Aproveitei o convite e em 1985 fui fazer-lhes uma visita.

12. Encontro com a Janet.

Estava à porta da Igreja antes do culto começar e vi uma mota grande a chegar. Para meu espanto era uma rapariga a conduzir, notei isto quando ela tirou o capacete. 

Passou por mim na porta e sentamo-nos de uma forma que eu podia vê-la donde estava sentado. Na segunda reunião na terça feira eu já estava apaixonado por ela.

Fiz perguntas ao meu amigo sobre aquela menina, como quem não quer nada. Uns dias depois, houve um passeio da Igreja e eu fui escolhido para ir no carro onde ela estava e, assim, podemos falar um pouco pela primeira vez. 

Nessa altura eu já sabia que ela tomava conta de uma tia que tinha 98 anos e pedi ao meu amigo para telefonar à Janet e perguntar se eu podia ir visitar a sua tia.

Fui visitá-los e nesse dia, organizamos uma saída e fui com ela na mota visitar alguns lugares e desta forma tornamo-nos amigos, mas não lhe disse nada sobre o amor que sentia por ela.

Entretanto, os meus amigos disseram que íamos passar férias ao Norte da Inglaterra e no regresso eles me iam deixar no aeroporto para eu voltar para Portugal.

Não, pensei eu, e a Janet, será que isto não passava de um sonho acordado e eu nunca mais iria vê-la?

Falei com os meus amigos e perguntei-lhes se não podiam convidar a Janet para ir connosco. Eles disseram que o problema era a casa que tinham alugado, pois os quartos já estavam ocupados. 

Mas, mesmo assim, eles decidiram telefonar e para a nossa surpresa a casa tinha mais um quarto, onde a Janet podia ficar.

Desta forma, eles telefonaram à Janet e perguntaram se ela queria ir de férias connosco, o que ela respondeu prontamente que sim.

Chegamos ao local das nossas férias, e no segundo ou terceiro dia eu e a Janet fomos dar um longo passeio a pé pelo campo. Passado uma hora ou duas, eu voltei-me para a Janet e disse-lhe "sabes uma coisa, eu acho que Deus me trouxe à Inglaterra para te conhecer e casar contigo".

Ela levantou os olhos e respondeu "eu não iria dizer-te nada, se não me tivesses dito isto. Mas, como me disseste isto, então vou dizer-te uma coisa".

Eu, apanhado de surpresa, pensei "o que será que ela me me vai dizer!?".

Ela disse-me "Eu já estou à espera de ti há muito tempo e até já comecei a estudar a língua portuguesa".

 Este pastor deve ser para mim?  

Depois explicou-te tudo. Quando o Ron e a Ruth voltaram de Portugal, a Ruth aproximou-se da Janet e falou-lhe sobre o encontro que tiveram comigo em Portugal.

Naquele mesmo momento, a Janet sentiu a clara convição que este pastor nascido em Angola, solteiro, seria o seu marido e ficou à espera da minha chegada, sem saber se eu era alto, baixo, branco, preto, feio ou bonito.

13. O Casamento com a Janet.

Resumindo tudo, casamos-nos 8 meses depois, no dia 2 de Fevereiro de 1985.

A Janet veio viver para Portugal, ajudando-me no trabalho pastoral em Lisboa e mais tarde fomos missionários no Norte de Portugal durante 16 anos onde fundamos o Centro Evangélico de Vila Real e com a ajuda de donativos vindos da inglaterra compramos uma sede para esta associação religiosa que nos custou cerca de 225.000 euros.


A Janet e eu em Lisboa!

A Janet teve 5 filhos em Portugal. 

O Pedro que tem hoje 28 anos, casado com a Inês de 28 anos também. O Ricardo de 26, a Joana de 24 anos casada com o James de 25 anos. O André de 23 anos que irá casar no final deste ano com a Sara, uma menina Australiana e o Filipe de 18 anos - isto em 2014.

E acabo aqui a minha história com esta nota:

No dia 26 de Janeiro de 1985, nós fizemos uma festa em Portugal, uma pré-celebração do nosso casamento que iria ser efectuado no sábado a seguir - dia 2 de Fevereiro de 1985.

No convite que fizemos aos nossos familiares e amigos portugueses colocamos o versículo de Josue 24:15  "Eu e a minha casa, nós serviremos ao Senhor".

Este é o grande desejo da Janet e o meu. Que nós, como casal e os nossos filhos sirvam ao Senhor, mesmo que isto nos custe sair da zona de conforto e passar alguns sacrifícios na sua vida.

De facto não desejamos mais nada, porque tudo o que possamos desejar, por muito bom que seja, tudo passa e ficará nesta terra, mas o que fizermos para Deus será ajuntado no céu e um dia teremos a recompensa.

14. Fotos da Minha família.

Algumas Fotos da minha família.

O meu pai era um grande Futebolista
Seleção de Moçâmedes contra o
Benfica Sport Lisboa - 1950

Roberto Latinhas com o lenço
na cabeça!


 O Latinhas à direita, deu mais este campeonato ao Benfica 


Foto da minha mãe Angelina
Alzira (mãe da Rosa Couto), Angelina 
e Isaura Latinhas


 O meu irmão Nito é o guarda redes


O meu irmão Angelino também era 
um grande futebolista


               Juniores do Sporting de       Moçâmedes - campeões de Angola
               O Angelino está em baixo 
                  é o 4º a partir da esquerda


            Angelino e viriato nas suas 
macacadas



Viriato no juramento de Bandeira 
em Nova Lisboa
Viriato a dar salto mortal por
cima do Jeep


3 quadros pintados pelo meu 
irmão Mandoca






Viriato e Janet em 1985

Casamos e a Janet viveu em
Portugal de 1985 a 2007

Portimão 1986 - Janet à espera do
Pedro, sente-se cansada



Nascimento do nosso 1º filho 
O Pedro
Roberto Latinhas, Janet, Angelina
e Pedro, Viriato


Viriato e Janet em 1992 em Vila Real

Vivemos desde 1992 até 2006
em Vila Real



Pedro, André, Ricardo e Joana
(falta o Filipe)







Foto da minha família
Vila Real 2003
Pedro, Filipe, Viriato, Joana, Janet, André e Ricardo


Casamento do meu filho Pedro 
e da inês em 2010
 Família do Viriato Latinhas: André, Joana, Pedro, Inês, Viriato, 
Janet, Filipe e Ricardo


Janet e Filipe no Algarve 
Rogil - 2009
Helena (mãe da Inês), Janet,
Inês, Pedro e Filipe
\

Filipe e Pedro no Algarve
Rogil - 2009


Envie notícias e fotos que eu possa publicar neste post, obrigado!

Viriato "Latinhas" 

viriato-martins@hotmail.com